A Menina que Roubava Livros
Markus ZusakEditora: Intrínseca
Markus ZusakEditora: Intrínseca
Liesel Meminger: a tradutora de emoções e
sentimentos
Começo a resenha já antecipando minha paixão por Liesel, a protagonista da história. É difícil não se envolver com o drama da personagem e o seu amadurecimento ao longo das mais de 400 páginas.
Markus Zusak é um autor extremamente habilidoso na construção de suas histórias e aqui sua criatividade nos surpreende logo na primeira página, pois a narradora é a Morte. Estranhamente, essa temida entidade sente uma afeição especial por Liesel Meminger, uma garotinha de 10 anos, que foi entregue pela mãe a um casal adotivo, no início da Segunda Guerra. O drama de Liesel já se delineia no comecinho do livro, quando o irmão pequenino morre dentro de um trem, a caminho da nova cidade e da nova família que a acolherá. A partir desse momento, Liesel desperta a atenção da Morte - com quem se encontrará outras duas vezes - por roubar o primeiro de alguns livros.
Hans e Rosa Hubermann são os pais adotivos de Liesel, que recebe do novo pai muito carinho e atenção. Com Hans, um pintor desempregado, aprende a ler e escrever as primeiras palavras no porão da humilde casa onde moram. Também é amparada por ele nas noites de pesadelo que parecem não acabar nunca. Com Rosa, nossa menina descobre o quão dura é a luta pela vida, já que a lavadeira se desdobra para dar conta de casa e das roupas que lava para a vizinhança mais abastada e não poupa palavrões e impropérios para dar vazão à sua revolta e rabugice. É uma época de escassez de tudo: emprego, comida, oportunidades. Apesar dos esforços da mãe e dos trocados que o pai ganha tocando sanfona noite afora, a comida nunca é suficiente e a fome está instalada permanentemente.
Na Rua Himmel, número 33, Liesel cresce e faz amigos jogando futebol entre os meninos e as brincadeiras que, nessa doce época da vida, aliviam um pouco as dores e o horror da guerra. Rudy é o amigo mais próximo, com quem ela divide aventuras, experiências e alguns segredos. Entre eles nasce uma paixão infantil e isso os aproxima ainda mais.
A mulher do prefeito é uma presença muito importante na narrativa, em meio à sua amargura e solidão entre os livros, que farão os olhinhos de Liesel brilharem a cada vez que entrar na biblioteca do prefeito. Numa vizinhança dividida entre judeus humilhados, alemães hitleristas e alguns fanáticos, personagens secundários ganham peso e constroem, ao lado de Liesel, uma visão da cidade atormentada pelo medo e sensibilizam o leitor, que encontra nas crianças da narrativa a leveza e o adormecimento dessa crueldade real e devastadora.
Considero como ponto alto da trama a chegada de um judeu à casa dos Hubermann. Max é filho de um amigo de Hans e é abrigado no porão, onde passa a viver escondido e sob forte tensão. Seu passatempo é criar sua versão da guerra em histórias que escreve nas páginas pintadas do ‘Mein Kampf’ de Hitler, com ilustrações e a percepção sensível da sua dor. O convívio com a família faz nascer uma bonita ligação fraternal entre eles. Liesel se empenha em trazer para o judeu escondido as notícias do clima e do mundo, nos jornais que encontra em latas de lixo.
Começo a resenha já antecipando minha paixão por Liesel, a protagonista da história. É difícil não se envolver com o drama da personagem e o seu amadurecimento ao longo das mais de 400 páginas.
Markus Zusak é um autor extremamente habilidoso na construção de suas histórias e aqui sua criatividade nos surpreende logo na primeira página, pois a narradora é a Morte. Estranhamente, essa temida entidade sente uma afeição especial por Liesel Meminger, uma garotinha de 10 anos, que foi entregue pela mãe a um casal adotivo, no início da Segunda Guerra. O drama de Liesel já se delineia no comecinho do livro, quando o irmão pequenino morre dentro de um trem, a caminho da nova cidade e da nova família que a acolherá. A partir desse momento, Liesel desperta a atenção da Morte - com quem se encontrará outras duas vezes - por roubar o primeiro de alguns livros.
Hans e Rosa Hubermann são os pais adotivos de Liesel, que recebe do novo pai muito carinho e atenção. Com Hans, um pintor desempregado, aprende a ler e escrever as primeiras palavras no porão da humilde casa onde moram. Também é amparada por ele nas noites de pesadelo que parecem não acabar nunca. Com Rosa, nossa menina descobre o quão dura é a luta pela vida, já que a lavadeira se desdobra para dar conta de casa e das roupas que lava para a vizinhança mais abastada e não poupa palavrões e impropérios para dar vazão à sua revolta e rabugice. É uma época de escassez de tudo: emprego, comida, oportunidades. Apesar dos esforços da mãe e dos trocados que o pai ganha tocando sanfona noite afora, a comida nunca é suficiente e a fome está instalada permanentemente.
Na Rua Himmel, número 33, Liesel cresce e faz amigos jogando futebol entre os meninos e as brincadeiras que, nessa doce época da vida, aliviam um pouco as dores e o horror da guerra. Rudy é o amigo mais próximo, com quem ela divide aventuras, experiências e alguns segredos. Entre eles nasce uma paixão infantil e isso os aproxima ainda mais.
A mulher do prefeito é uma presença muito importante na narrativa, em meio à sua amargura e solidão entre os livros, que farão os olhinhos de Liesel brilharem a cada vez que entrar na biblioteca do prefeito. Numa vizinhança dividida entre judeus humilhados, alemães hitleristas e alguns fanáticos, personagens secundários ganham peso e constroem, ao lado de Liesel, uma visão da cidade atormentada pelo medo e sensibilizam o leitor, que encontra nas crianças da narrativa a leveza e o adormecimento dessa crueldade real e devastadora.
Considero como ponto alto da trama a chegada de um judeu à casa dos Hubermann. Max é filho de um amigo de Hans e é abrigado no porão, onde passa a viver escondido e sob forte tensão. Seu passatempo é criar sua versão da guerra em histórias que escreve nas páginas pintadas do ‘Mein Kampf’ de Hitler, com ilustrações e a percepção sensível da sua dor. O convívio com a família faz nascer uma bonita ligação fraternal entre eles. Liesel se empenha em trazer para o judeu escondido as notícias do clima e do mundo, nos jornais que encontra em latas de lixo.
'Para Max Vandenburg, havia o cimento frio e muito tempo para passar com ele.
Os minutos eram cruéis. As horas eram um castigo. Erguendo-se sobre ele, em
todos os momentos de vigília, havia a mão do tempo, que não hesitava em
atormentá-lo. Sorria, apertava e o deixava viver. Que grande maldade podia
haver em se deixar uma coisa viva!' (p. 224)
O desfile dos judeus é de pausar a leitura, num pedido de retomada do fôlego. É preciso fôlego, distanciamento, coragem para prosseguir. Fiquei com um profundo sentimento de compaixão repercutindo no coração.
O livro enseja uma forte reflexão ao significado e ao poder das palavras, que tanto encantam Liesel e a levam a tentar descobrir o que elas querem dizer. Nessa busca, passa a roubar livros, única maneira de adquiri-los e entrar em contato com o universo mágico das histórias. É fascinante acompanhar as descobertas que Liesel vai fazendo com cada livro que abre, especialmente depois que aprende a ler e passa a dominar a leitura.
Zusak conseguiu construir uma história que enternece e encanta, faz refletir e emociona. Cria personagens que gostaríamos de encontrar pela vida. Mostra como a simplicidade de Hans, um homem rude, sem oportunidades na vida, pode nos ensinar tão belas lições de amizade e solidariedade. Faz de Liesel uma tradutora de emoções e sentimentos, cuja pureza e carisma prendem a atenção do leitor. Conta uma história de amor e esperança em meio à guerra. Cria sensações e certa melancolia, saudade da infância. Faz ver a beleza dos pequenos gestos que modificam as situações mais difíceis.
Lindo, sensível, profundo! Arrebatador! É o tipo de livro que tenho vontade de presente
O desfile dos judeus é de pausar a leitura, num pedido de retomada do fôlego. É preciso fôlego, distanciamento, coragem para prosseguir. Fiquei com um profundo sentimento de compaixão repercutindo no coração.
O livro enseja uma forte reflexão ao significado e ao poder das palavras, que tanto encantam Liesel e a levam a tentar descobrir o que elas querem dizer. Nessa busca, passa a roubar livros, única maneira de adquiri-los e entrar em contato com o universo mágico das histórias. É fascinante acompanhar as descobertas que Liesel vai fazendo com cada livro que abre, especialmente depois que aprende a ler e passa a dominar a leitura.
Zusak conseguiu construir uma história que enternece e encanta, faz refletir e emociona. Cria personagens que gostaríamos de encontrar pela vida. Mostra como a simplicidade de Hans, um homem rude, sem oportunidades na vida, pode nos ensinar tão belas lições de amizade e solidariedade. Faz de Liesel uma tradutora de emoções e sentimentos, cuja pureza e carisma prendem a atenção do leitor. Conta uma história de amor e esperança em meio à guerra. Cria sensações e certa melancolia, saudade da infância. Faz ver a beleza dos pequenos gestos que modificam as situações mais difíceis.
Lindo, sensível, profundo! Arrebatador! É o tipo de livro que tenho vontade de presente